As antífonas do Ó
Nosso roteiro valoriza de modo especial as antífonas do ó. São sete poéticas composições, que na tradição romana acompanham o cântico de Maria nos dias da semana do advento, de 17 a 24 de dezembro. A versão brasileira de Reginaldo Veloso acrescentou duas novas, inserindo as expressões Mistério e Libertação, para completar os dias da novena. São chamadas “do ó” por causa da exclamação com que se iniciam. Elas exprimem a admiração comovida da Igreja na contemplação do mistério da vinda de Cristo, invocado com títulos tomados de clássicas imagens bíblicas: Mistério, Libertação, Sabedoria, Guia da casa de Israel, Rebento de Jessé, Chave de Davi, Sol da justiça, Rei das nações, Emanuel. Em alguns lugares do Brasil são muito conhecidas, chegando a dar um título curioso na devoção mariana – “Nossa Senhora do Ó”.
Sua origem remonta ao século VIII. Seu autor é desconhecido, embora alguns atribuam ao Papa Gregório Magno. Mas certamente alguém com um profundo conhecimento das Escrituras, porque ligou várias passagens do Antigo Testamento, criando algo novo e original
Elas têm todas uma estrutura semelhante: invocação ao Cristo, sempre iniciada em “Ó”, seguida do sentido desta invocação e um pedido. Num ritmo progressivo, a cada dia que passa aumenta a densidade da súplica, conduzindo-nos para dentro do mistério do Natal que estamos para celebrar, ajudando-nos a centrar no Cristo todas as nossas aspirações e desejos.
É uma súplica cheia de desejo dirigida ao próprio Cristo, para que venha salvar-nos sem demora. Ele é o mistério escondido e agora manifestado para trazer boa nova e libertação aos oprimidos. É Ele a Sabedoria que saiu da boca do altíssimo, guia do povo em êxodo, sinal para todas as nações, portador da chave que liberta das prisões. Cristo é o Sol nascente, resplendor da Luz eterna para os que jazem nas trevas, portador do nome divino, o Emanuel, Deus conosco, esperado das nações e desejado de todos corações a quem invocamos com toda ternura do coração: Vem, Senhor Jesus.
O desejo é a nossa oração, dizia Santo Agostinho. Nosso desejo, no entanto, precisa ser educado. As antífonas não eliminam nosso desejo, mas educam-no. Libertam o nosso desejo dos seus instintos egoístas. Universalizam e dão densidade aos nossos desejos. Elas são expressão do Espírito que vem em nossa fraqueza e reza em nós.
As imagens quase sempre evocando uma força que se revela na vida dos pobres e dos excluídos conjugam os títulos divinos de Cristo com sua humanidade e sua repercussão em nossa humanidade. Apresentando estes títulos, as antífonas evangelizam nossas imagens de Jesus Cristo. Muitas vezes construímos imagens não bíblicas, não cristãs, do próprio Senhor a quem seguimos. Elas nos ajudam, assim, a desenhar o rosto do Senhor no qual pusemos toda a nossa esperança e a viver com toda a intensidade, sem superficialidades e antecipações, o compasso da espera dos nove dias que preparam a festa do natal do Senhor.
FONTE: http://www.apostoladoliturgico.com.br/calendario3.php